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O que o caso do pastor mirim Miguel Oliveira nos ensina sobre Neuromarketing e autoridade sem conteúdo?
A ascensão do “profeta mirim” Miguel Oliveira nas redes sociais é um exemplo claro de como os atalhos mentais estudados por Robert Cialdini influenciam decisões
Por Diego Parra
A ascensão do “profeta mirim” Miguel Oliveira nas redes sociais é um exemplo claro de como os atalhos mentais estudados por Robert Cialdini influenciam decisões e percepções. Princípios como Autoridade, Aprovação Social, Reciprocidade e Escassez estão, de forma direta ou indireta, presentes em sua construção de imagem.
Miguel, uma criança com discurso articulado e espiritualizado, desperta fascínio e empatia imediata por representar algo incomum: sabedoria aparente em idade precoce. Isso aciona o atalho da Escassez (afinal, quantas crianças “profetizam”?), e o da Autoridade, ao ser colocado em um lugar de voz poderosa, frequentemente reservado a líderes religiosos experientes. Ao somar isso à sua grande exposição e seguidores nas redes, temos também o atalho da Aprovação Social.
No entanto, cabe aqui uma reflexão.
O neuromarketing não se trata somente de compreender como o cérebro funciona — trata-se de entregar conteúdo com profundidade. Conhecimento superficial, repetido sem compreensão, é como uma embalagem bonita, mas vazia. Por mais chamativa que seja, uma embalagem sem conteúdo não se sustenta em pé. Ela pode impressionar à primeira vista, mas logo perde a função quando não oferece substância.
Miguel emociona e encanta, mas a reflexão necessária é: o discurso carrega sabedoria ou somente performance? O verdadeiro poder da comunicação está na combinação entre forma e conteúdo. E, neste caso, o conteúdo depende de vivência, leitura, escuta e maturidade.
Como nos lembra a neurociência, o cérebro é sensível à coerência emocional. A longo prazo, percebemos quando algo é ensaiado versus quando é vivido. A sabedoria verdadeira não vem da memorização de versículos ou frases de efeito — ela nasce com o tempo, com o silêncio, com os tombos da vida. E isso, infelizmente, não pode ser acelerado pela fama digital.
Assim como não se pode forçar uma fruta a amadurecer sem perder o sabor, a sabedoria só se adquire com o tempo, com maturidade e com experiências reais. Não se forma uma autoridade legítima sem base — ou, como diria Cialdini, a verdadeira influência ocorre quando a credibilidade e a consistência estão presentes, mesmo sem serem percebidas conscientemente.
Este caso serve como alerta: o neuromarketing pode ser uma ponte poderosa, mas não deve ser usado como caminho para sustentar embalagens vazias. Sem conteúdo, o encantamento se desfaz. Com conhecimento, propósito e verdade, a conexão se fortalece — e é disso que o cérebro humano realmente se lembra.
DIEGO PARRA é gerente de Marketing e Business Development no Battaglia & Pedrosa Advogados, especialista em Neuromarketing e estratégias de marketing jurídico. Possui ampla experiência em inbound marketing, SEO, análise de dados e coordenação de produção de conteúdo. Co-autor do livro digital “Pedindo Vista” e colunista do site www.onmarketingjuridico.com.br e palestrante convidado na Fenalaw.