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Arrecadação tributária brasileira: como, não sabia?
A carga tributária brasileira é expressiva e também complexa em sua gestão, dada a forma de organização do Estado Brasileiro
Administradores e empresários no Brasil têm lido há muito tempo sobre os  níveis de tributação do País e suas consequências para os negócios,  tais como o incremento da concorrência desleal e o movimento das  administrações tributárias no sentido de manter seus níveis de receitas.  Relatórios internacionais demonstram o alto grau de burocracia e de  tempo despendido para uma adequada gestão tributária relacionada às três  instâncias governamentais – União, Estados e Municípios.
Todos  nós – administradores; gestores, conselheiros e consultores tributários;  e profissionais da área de Tecnologia de Informação – se viéssemos a  ler, ver ou escutar no futuro os movimentos dos administradores  tributários em inúmeras palestras organizadas por órgãos profissionais e  empresariais sobre a implantação do SPED – Sistema Público de  Escrituração Digital, não perceberíamos em nada do que lemos, vimos ou  escutamos algo que nos levasse ao entendimento de que estamos diante de  mais uma obrigação tributária, agora bem mais complexa.
De fato, a  carga tributária brasileira é expressiva e também complexa em sua  gestão, dada a forma de organização do Estado Brasileiro, na qual cada  entidade arrecadadora administra seus tributos e compartilha parte deles  entre seus entes subordinados, com base em dados fornecidos pelos  próprios contribuintes.
Ao longo dos anos, os entes ativos –  União, Estados e Municípios –, para compatibilizar seus gastos, buscam  manter os níveis de arrecadação tributária de modo a que, no mínimo, não  seja gerado um déficit fiscal. O caminho mais fácil sempre é o de  aumentar a tributação. Para isso, recorrem à ação mais simples, que é o  aumento de alíquota, ou a atitudes mais complexas, como o alargamento da  base tributária pela inclusão de novos contribuintes ou da base de  cálculo, ou a criação de novos impostos, taxas ou contribuições.
Inovando,  a administração tributária brasileira tem colocado em prática o que  estava previsto em nosso Código Tributário Nacional desde 1966: realizar  a troca de informações necessárias e suficientes entre eles para uma  gestão tributária eficiente. A partir dessa ideia, nasceu o projeto  SPED. Esta iniciativa tomou por base experiências dos países Europeus,  com a implantação do Sintegra.
A infraestrutura necessária –  composta por hardware e o software – foi instalada de modo a suportar o  elevado número de contribuintes brasileiros e a enorme gama de  informações que eles geram em decorrência de suas operações. Com base  nessa infraestrutura, pôde o Estado Brasileiro instituir o que se  denomina de B2G (business to government), que é uma poderosa ferramenta  de administração tributária na medida em que, por meio dela, são  monitoradas todas as ações necessárias e importantes para que ele – o  Estado – possa administrar sua principal receita – a tributária – e  manter-se plenamente atualizado sobre de que modo atuam os agentes  responsáveis por gerá-las – os contribuintes.
Nesse momento,  percebe-se que o Estado está agindo e administrando sua receita de  maneira similar às empresas privadas – entidades incluídas entre os  contribuintes –, cuja rotina é a busca de resultados sustentáveis, que  possam inseri-las como melhores num setor, proporcionando adequada  rentabilidade aos seus proprietários ou acionistas pela adoção de  processos eficientes e eficazes.
Essa busca pela eficiência na  gestão de suas receitas – especialmente a tributária – pela instituição  do SPED e de suas melhorias ao longo desses três anos de implementação  resultará também, indubitavelmente, no crescimento da arrecadação  tributária, pela inclusão de novos contribuintes no rol de tributados e  pela melhor gestão tributária nas empresas.
Assim, para que o  SPED possa atingir seu objetivo final, a organização dos dados  empresariais e contábeis precisa ser padronizada, para que proporcione a  possibilidade de aplicação de procedimentos de auditoria fiscal a longa  distância, segundo parâmetros pré-definidos, fazendo com que sejam  conduzidas por matrizes de risco e indicadores resultantes das análises  dos arquivos que estarão à disposição das autoridades tributárias.
O  SPED, no médio/longo prazos, proporcionará uma redução marcante dos  custos de gestão tributária nas empresas, pois todas as informações  contábeis e fiscais estarão parametrizadas e padronizadas nas  organizações a partir de um só sistema, o que propicia uma oportunidade  de análise e redesenho de seus processos de negócios numa amplitude  inimaginável. Esses princípios deverão ter o apoio da alta administração  das empresas, sob a gestão da administração e da tecnologia de  informação, permeando todos os departamentos das organizações, inclusive  as áreas de produção e comercialização. Essa integração e convergência  de informações são de suma importância para valorizar a qualidade da  gestão empresarial e de sua governança.
São inúmeras as  informações que a consolidação do projeto SPED requererá, e um simples  dado apresentado em um dos arquivos do sistema que esteja inconsistente  em relação a outros arquivos do projeto caracterizará um indício que  poderá resultar em auditoria fiscal ou até mesmo em lavratura de auto de  infração. O monitoramento pelos administradores desse processo de  geração dos arquivos do projeto SPED é extremamente importante para a  eficácia da governança tributária, proporcionando o conhecimento e  controle de toda a cadeia de informações sobre os negócios e mitigando  eventuais inconsistências.
Roberto Cunha é sócio de Impostos Indiretos e Aduaneiros na KPMG no Brasil